Entrevista com Martin Crimp, por Luis Felipe Reis
Por Luis Felipe Reis, no Globo online:
Considerado um dos mais brilhantes autores teatrais britânicos surgidos nos anos 80, Martin Crimp é um sujeito recluso, dono de diálogos ácidos que expõem uma visão seca e crua das relações humanas em tempos de pós-modernidade. Enxerga a sociedade como o lugar da “decadência social, de acordos morais tácitos e de uma violência pouco suprimida”, diz o crítico Alex Sierz. Em suas mais de 16 peças, não há espaço para relacionamentos amorosos ou diversão. Formado na St Catharine’s College, a mesma onde estudou Tom Stoppard, Crimp passou a ser apontado como o dramaturgo mais inovador da sua geração após a estreia de “Tentativas contra a vida dela” no Royal Court Theatre, em 1997. Traduzida para mais de 20 idiomas, seu texto mais corajoso e inovador chega ao ao Sérgio Porto pelas mãos do diretor Felipe Vidal, que planeja para o ano que vem mais dois textos do autor, “O campo” (The Country) e “A cidade” (The City). Sentado em frente a um antigo piano e cercado por gerânios que avançam pela janela de sua casa, localizada perto do Heathrow Airport, na Inglaterra, Crimp conversa com O Globo e revela detalhes do processo criativo de suas peças, opiniões sobre o cenário teatral britânico e analisa as principais motivações que o levaram ao teatro, quando deixou de lado uma tentativa frustrada como romancista e autor de contos para assumir os palcos com o seu primeiro texto, “Love games” (1982).
Leia a entrevista em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/08/20/recluso-acido-dramaturgo-ingles-martin-crimp-comeca-ser-encenado-no-brasil-917443234.asp
Aleks Sierz e Martin Crimp conversam sobre a peça Tentativas contra a vida dela
Entrevista de Aleks Sierz com Martin Crimp, publicada em: SIERZ, Aleks. The Theatre of Martin Crimp. Londres: A&C Black, 2006. Coleção Methuen/drama (trecho traduzido por Daniele Avila)
ALEKS SIERZ: Você pode me contar como surgiu o “Tentativas contra a vida dela”?
MARTIN CRIMP: No intervalo entre “The treatment” e “Tentativas contra a vida dela”, eu cheguei num ponto de frustração com – o que se pode chamar de – o jeito normal de escrever. Eu estava completamente entediado de fazer diálogos do tipo “ele disse” e “ela disse”. Eu estava frustrado com o drama psicológico e entediado com o chamado teatro cutting-edge. Não é nada bom escrever se você não tiver prazer de escrever. E por algum tempo depois de “The treatment” eu tinha prazer escrevendo pequenos contos em formato de diálogo. Eu sentia uma verdadeira urgência em escrever dessa maneira. E foi assim que surgiu o “Tentativas”. Eu ficava escrevendo cenas dessa maneira, então eu olhava para elas e dizia: “Desculpa, Martin, mas isso não é uma peça.” Depois, no final eu acabei pensando: “Claro que é.” Eu estava satisfeito com a escrita – parecia totalmente minha, era bem Martin – e funcionou.
ALEKS SIERZ: Sim, eu concordo. Mas outras peças te influenciaram na época? (mais…)
Tentativas contra a vida dele
Por Aleks Sierz
No livro intitulado “The Theatre of Martin Crimp”, publicado em 2006, o crítico Alekz Sierz faz uma aproximação bem humorada com as estratégias críticas da escrita do próprio Martin Crimp para esboçar um texto sobre ele.
1. O projeto
Para o seu próximo livro, o Crítico decidiu focar num único dramaturgo, o Escritor. Mas ele está perturbado pela teoria pós-moderna que proclama A Morte do Autor. E se o Escritor não tiver escrito as suas peças? E se a linguagem tiver simplesmente falado através dele? No dia seguinte, o Crítico vê o escritor de relance na estreia de uma peça em Londres. Ufa, pelo menos ele ainda está vivo. Mas como será que ele é, como pessoa?
2. A escola
A primeira coisa que o Crítico estabelece sobre o Escritor é que ele frequentou a mesma escola que um outro escritor famoso. Então ele pesquisa a obra do Escritor, procurando pistas da sua criação, sua família, sua escola. Obviamente com pouco sucesso. (mais…)